Anúncio do JEiE Volume 8, Número 2 – Edição Especial sobre Género na Educação em Situações de Emergência!
Temos o prazer de anunciar a publicação da Revista sobre Educação em Situações de Emergência Volume 8, Número 2 – Edição Especial sobre Género na Educação em Situações de Emergência!
Esta edição do Journal on Education in Emergencies (JEiE) oferece uma análise profunda dos efeitos únicos que as situações de emergência humanitária têm sobre meninos e meninas. Há mais de duas décadas, pesquisas no campo na EeE demonstram como conflitos e crises agravam as barreiras políticas, sociais e económicas do acesso à educação e aumentam a disparidade de género na educação.
Impulsionada pelo compromisso que os líderes do G7 assumiram por meio da Declaração Charlevoix sobre Educação de Qualidade para Meninas, Adolescentes e Mulheres nos Países em Desenvolvimento de promover a igualdade de género na educação através de dados desagregados do sexo e sistema de prestação de contas baseados em evidências, esta edição chama atenção para o papel que as pesquisas académicas podem exercer na melhoria do acesso e da igualdade na qualidade da educação para estudantes afetados por deslocamento, fragilidade política e violência.
O JEiE Volume 8, Número 2 inclui: cinco artigos científicos, uma nota de campo e três resenhas de livro. As/Os autoras/es revelam novas evidências de violência de género vivenciada por estudantes em países de renda alta, média e baixa; exploram a intersecção de raça, género e deslocação que estudantes refugiados encontram em novos ambientes de aprendizagem; e questionam as disparidades entre meninos e meninas com relação ao acesso à educação e o aprendizado que eles relataram alcançar durante o fechamento de escolas na pandemia da COVID-19. Alguns autores traçam os efeitos que o aumento das responsabilidades domésticas e da segurança percebida de suas comunidades de acolhimento têm na capacidade de meninas refugiadas terem acesso à educação secundária. Eles também trazem abordagens inovadoras para coletar, desagregar e analisar dados acerca dos resultados de programas em contextos de emergência. Uma das três resenhas de livro desta edição documenta as conclusões das pesquisas de EeE realizadas ao longo de um século sobre o que significa ser uma menina instruída na Índia e no Paquistão. As outras duas resenhas relatam o progresso no apoio às meninas e à educação de pessoas refugiadas, como descrito em relatórios interagências de alto nível e por facilitadores da educação terciária em campos de refugiados em Dadaab, no Quénia.
As/Os autoras/es compartilham o conhecimento obtido em pesquisas e trabalhos de campo realizados em contextos variados, como América do Norte, África Subsariana, Médio Oriente e Sul da Ásia. Esta edição especial do JEiE relaciona a crise do acesso desigual de meninas à educação de qualidade com o impacto mundial da COVID-19 em diversas maneiras, e evidencia as vulnerabilidades dos sistemas educativos que enfrentam, simultaneamente, as desigualdades existentes e as novas situações de emergência.
Como uma revista de acesso aberto diamante, o Volume 8 completo do JEiE, Número 2, bem como edições anteriores do JEiE e todos os artigos individuais, podem ser baixados gratuitamente no site da INEE: https://inee.org/pt/journal.
Esta edição está disponível em inglês; o resumo e o título de cada artigo estão também disponíveis em francês, espanhol, português e العربيه.
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Journal on Education in Emergencies [Revista sobre Educação em situações de Emergência]
Volume 8, Número 2 – Edição Especial sobre Género na Educação em Situações de Emergência.
ÍNDICE E RESUMOS
Nota Editorial: Revista sobre Educação em situações de Emergência (JEIE) Volume 8, Número 2
Carine Allaf, Julia Dicum, e Ruth Naylor
Nesta nota editorial, as editoras principais Carine Allaf, Julia Dicum e Ruth Naylor examinam os debates conceituais que encontraram durante o processo de curadoria desta Edição Especial sobre Género na Educação em Situações de Emergência do JEiE. Ao destacar a pandemia de COVID-19 e as disparidades persistentes entre meninos e meninas em termos de matrícula e aprendizagem, as editoras consideram o que significa estar em um contexto de “emergência”. Elas mostram as contribuições de cada autor na criação de sistemas de prestação de contas baseados em evidências e dados educacionais desagregados em termos de sexo, bem como de objetivos traçados em resposta aos compromissos assumidos pelos líderes do G7 na Declaração Charlevoix, em 2018.
Educação para consolidação da paz no enfrentamento a violência baseada em género: Experiências de jovens no México, em Bangladesh e no Canadá
Kathy Bickmore e Najme Kishani Farahani
Construir paz durável por meio da educação requer lidar com hierarquias e ideologias de género que encorajam tanto a agressão física direta quanto danos indiretos causados pela marginalização e pela exploração. Embora sistemas de educação formal sejam moldados pelos padrões de género de conflito social, inimizade e desigualdade, as escolas podem ajudar as/os jovens a expandir suas inclinações, relações e capacidade de participar na construção de uma paz sustentável e justa para todos os géneros. Neste artigo, baseamos-nos em pesquisas de grupos focais realizadas com jovens e professoras/es em escolas públicas do México, de Bangladesh e do Canadá para investigar como as/os jovens compreendem os conflitos sociais e a violência que os cercam, o que eles acham que os cidadãos poderiam fazer sobre essa questão, e como as/os professoras/es utilizam os currículos escolares para lidar com isso. A investigação revelou que a violência de género era difundida na vida das/os estudantes em todos os três ambientes, mas o currículo que as/os professoras/es e estudantes descreveram apresentou pequenas diferenças entre os contextos: incluía poucas oportunidades para examinar ou resistir às normas de género, às instituições e às hierarquias, que são as raízes de exploração e da violência.
Barreiras ao acesso à educação de adolescentes refugiados durante a COVID-19: Explorando os papéis de género, deslocação e desigualdades sociais
Nicola Jones, Kate Pincock, Silvia Guglielmi, Sarah Baird, Ingrid Sánchez Tapia, Erin Oakley, e Jennifer Seager
Desde 2021, mais de 80 milhões de pessoas em todo o mundo foram deslocadas por motivos de guerra, violência e pobreza. Estima-se que entre 30 e 34 milhões dessas pessoas tenham menos de 18 anos e que muitas estejam em risco de interromper os seus estudos permanentemente — uma situação agravada nos últimos anos pela pandemia global da COVID-19. Neste artigo, adotamos uma enquadramento conceitual interseccional para explorar os papéis que o género e outras desigualdades sociais desempenharam para o acesso de adolescentes à educação durante a pandemia da COVID-19. Examinamos duas populações de refugiados: os rohingyas, que foram excluídos das oportunidades de educação formal em Bangladesh, e os refugiados sírios na Jordânia, que têm acesso à educação formal em seu país de acolhimento. Apresentamos novos dados empíricos, assim como insights sobre a experiência dos refugiados adolescentes e as consequências que a pandemia traz para a educação no curto prazo. No artigo, baseamos-nos em dados quantitativos de questionários aplicados a 3.030 adolescentes, e em entrevistas qualitativas em realizadas no segundo semestre de 2020 com um subconjunto de 91 adolescentes que fazem parte de um estudo longitudinal em curso. Também realizamos 40 entrevistas com informadores-chave: líderes comunitários e prestadores de serviços.
Vozes de meninos e meninas sobre a experiência de género na aprendizagem durante a pandemia de COVID-19 em países afetados pela deslocação
Nicole Dulieu, Silvia Arlini, Mya Gordon, e Allyson Krupar
Este documento apresenta pesquisas sobre as perceções de género de meninas e meninos sobre a sua aprendizagem durante o fechamento de escolas em função da pandemia de COVID-19. A investigação foi realizada em dez países afetados por deslocações na Ásia, no Médio Oriente, na África e na América Latina. Aplicamos análises estatísticas utilizando modelos de regressão logística multivariados a partir dos resultados de pesquisa realizada com os pais ou cuidadores e seus filhos. Complementamos o estudo quantitativo com metodologia qualitativa, que forneceu uma compreensão subtil das perceções de meninas e menino sobre a aprendizagem e as preocupações que expressaram durante o fechamento das escolas. Nossos resultados mostram que as crianças em ambientes deslocados provavelmente perceberam um declínio na aprendizagem durante a pandemia e que os fatores que influenciam esta perceção diferem entre meninos e meninas. As perceções das meninas sobre terem aprendido “nada” ou apenas “um pouco” estavam mais fortemente associadas a barreiras materiais, como o acesso limitado a materiais de aprendizagem e circunstâncias económicas, domésticas, diferentemente das perceções dos meninos. A experiência dos meninos de aprender “um pouco” ou “nada” foi mais fortemente associada ao aumento de sentimentos negativos, incluindo sentir-se triste ou preocupado, aumento da violência em casa e aumento da responsabilidade de cuidar de irmãos ou outras crianças. Esta pesquisa observa a importância de apoiar as crianças deslocadas, fornecendo recursos adequados para permitir o acesso equitativo à aprendizagem, e pede uma programação intersetorial para apoiar as crianças deslocadas que estão a lidar com pressão emocional.
Interseccionalidade: Experiências de socialização e racialização de género de estudantes iraquianos reinstalados nos Estados Unidos
Flora Cohen, Sarah R. Meyer, Ilana Seff, Cyril Bennouna, Carine Allaf, e Lindsay Stark
Pessoas vindas de países afetados por conflitos, como o Iraque, enfrentam enormes desafios quando se reinstalam nos Estados Unidos. Com base na teoria da interseccionalidade, exploramos as experiências vividas de meninas e meninos adolescentes do Iraque que se instalaram no Texas e na Virgínia. Neste estudo qualitativo, focamos na escola como uma instituição que se posiciona para fazer cumprir, ou combater, as desigualdades sistémicas e interpessoais entre os jovens refugiados, especialmente em termos de género e raça. Nossa análise temática identifica as formas como suas interações com professoras/es, pares e familiares no contexto escolar moldaram a socialização dessas e desses adolescentes que vieram do Iraque. Os resultados do estudo refletem a importância de compreender como os ambientes educativos podem influenciar as experiências interseccionais de jovens afetados por conflitos que se instalaram nos Estados Unidos
As meninas refugiadas são um dos grupos mais marginalizados do mundo quando se trata de participação na escola, e têm metade da probabilidade de se matricular na educação secundária do que seus pares do sexo masculino. As disparidades de género podem ser agravadas por conflitos e deslocações e, muitas vezes, aumentam à medida que as crianças crescem. Muitos países de acolhimento de baixo e médio rendimento avançam para modelos mais inclusivos de educação para os refugiados, assim, é fundamental identificar barreiras que podem limitar de outras formas a inclusão de meninas refugiadas. Para examinar estes agregados familiares e identificar os fatores na comunidade que moldam a participação na educação secundária, recorri apenas a dois questionários de agregados familiares conduzidos na Etiópia. As conclusões sugerem que a origem das desvantagens e a sua importância variam nos diferentes grupos. As responsabilidades domésticas e as preocupações sobre segurança na comunidade são mais susceptíveis de limitar a participação das meninas refugiadas na educação secundária do que os meninas refugiados e as meninas das comunidades de acolhimento. Outros fatores, incluindo a educação dos pais e a exposição à violência de género, são menos susceptíveis de diferir entre as meninas refugiadas e as da comunidade de acolhimento. Essas conclusões têm implicações para as políticas de educação e proteção social que visam a educação e bem-estar das meninas, tanto nas comunidades de refugiados quanto nas comunidades de acolhimento.
Desagregação de dados para educação inclusiva e de qualidade em situações de emergência: A experiência da pandemia de COVID-19 no Gana
Abdul Badi Sayibu
As organizações que estão a implementar intervenções em situações de emergência enfrentam, sem dúvida, alguns grandes desafios na análise dos dados necessários. Isso deve-se, principalmente, à falta de acesso direto das organizações aos beneficiários e à natureza em rápida evolução das emergências. Nesse documento, o autor descreve como o projeto da Plan International denominado Making Ghanaian Girls Great! – genericamente conhecido como MGCubed – utilizou questionários feitos por telefone para determinar a receção de um programa de TV de Gana, Learning TV, que o projeto implementou em parceria com o governo. Devido à necessidade de informação em tempo real para orientar a implementação dessa intervenção em um contexto de emergência, houve pouco tempo para realizar uma análise estatística aprofundada dos dados dos questionários. Esse documento aborda a forma como o projeto MGCubed adotou um método simples de desagregação de dados ao utilizar uma técnica de árvore lógica na obtenção de conhecimentos valiosos a partir dos dados do questionário telefónico. O método permitiu aos parceiros do projeto explorar os conhecimentos do conjunto de dados fornecidos em tempo real sem haver necessidade de realizar uma análise mais complexa e prolongada.
Na resenha do Relatório de Género da UNESCO de 2019: Construindo pontes para a igualdade de género e o foco dos objetivos da INEE (Building Bridges for Gender Equality) o relatório Mind the Gap (Atenção à lacuna) da INEE: Em The State of Girls Education in Crisis and Conflict (A situação da educação feminina em situações de crise e conflito), Nora Fyles considera que, embora o âmbito e os objetivos dos dois relatórios divirjam, ambos contribuem para uma base de evidências sobre género e educação em uma variedade de contextos de crise, incluindo a migração e deslocação. Também considera que o documentos resumem enquadramentos jurídicos e políticos internacionais, regionais e nacionais; baseiam-se na literatura para descrever as dinâmicas entre géneros na educação; e fornecem exemplos e estudos de caso específicos. Os dois relatórios estabelecem uma base de evidências sobre a situação da educação de meninas em contextos de crise e salientam questões críticas que deveriam orientar e fazer avançar a agenda da Declaração Charlevoix.
Na resenha de Forging the Ideal Educated Girl: The Production of Desirable Subjects in Muslim South Asia, de Shenila Khoja-Moolji, Laila Kadiwal descreve como a autora dissolve pressupostos homogéneos sobre as meninas muçulmanas inseridos na ajuda ocidental e nas políticas externas, bem como nas políticas internas das sociedades muçulmanas. O livro, que leva os leitores pelo sul da Ásia e da Índia colonial do século XIX e o Paquistão atual, apresenta “a menina muçulmana educada” como uma figura dinâmica, e não como a figura monolítica como é frequentemente atribuída. Kadiwal apela a todos os que trabalham na área da educação para que analisem as condições subjacentes às razões pelas quais as mulheres muçulmanas são frequentemente tratadas como sujeitos e não como agentes.
A resenha de Spogmai Akseer sobre o livro Borderless Higher Education for Refugees: Lessons from the Dadaab Refugee Camps, editado por Wenona Giles e Lorrie Miller, proporciona uma interessante interpretação de como as pessoas refugiadas consideram a educação superior como um poder transformador nas suas vidas. Giles e Miller e os diversos colaboradores desse livro abordam de frente as complexas questões sobre a educação superior para refugiados. Demonstram ser necessário oferecer educação superior aos refugiados de modo a que estes possam atravessar sistemas de desigualdade vigentes e superar parte dos obstáculos sociais, políticos e económicos que enfrentam.