Anúncio da JEiE Volume 9, número 1!
Esta edição da Revista sobre Educação em Situações de Emergência (Journal on Education in Emergencies - JEiE) apresenta questões pouco estudadas e vozes pouco representadas em contextos de conflito e crise. As/Os autoras/es colaboradoras/es apresentam pesquisas e trabalhos de campo sobre educação em situações de emergência que atendem e respondem ao contexto em uma ampla variedade de cenários, incluindo Quénia, Malawi, Ruanda, Nigéria, Líbano, Iraque, Geórgia, Paquistão, Indonésia, Myanmar, Bangladesh e Colômbia.
O volume 9, número 1 do JEiE acrescenta evidências sobre os fatores que influenciam estudantes a retomarem seus estudos ou desistirem permanentemente quando há interrupções em sua escolaridade; sobre as formas como a educação de recuperação pode ajudar estudantes que estão fora da escola a retomarem seus estudos; sobre como enquadramentos localmente relevantes de esperança, autoconceito, resiliência e vulnerabilidade influenciam as aspirações das e dos estudantes e eleva a agência e o protagonismo de professoras/es dentro do discurso global de EeE; e sobre a eficácia das intervenções de aprendizagem socioemocional que respondem às realidades relacionadas à idade e ao gênero das/os estudantes.
Esta edição inclui cinco artigos de pesquisa, cinco notas de campo e quatro resenhas de livros. Nossa seção de notas de campo apresenta uma “Subseção Especial sobre Educação em Pandemias”. Autoras/es dos quatro artigos desta subseção oferecem lições sobre a concepção e a oferta de educação a distância e baseada na comunidade durante crises de saúde pública, bem como percepções sobre os fatores que aumentam a resiliência dos sistemas educacionais à medida que os efeitos da COVID-19 mudam de choques agudos para estressores do sistema. Nesses artigos, as/os autoras/es destacam o valor dos currículos culturalmente responsivos, a flexibilidade no ensino superior, os modelos alternativos de ensino para estudantes em locais de difícil acesso e para estudantes que vivem em extrema pobreza, e os benefícios que a oferta de treinamento de professoras/es e as visitas presenciais de professoras/es têm para a continuidade da educação durante o fechamento de escolas devido à pandemia.
Como um periódico de acesso aberto diamante, esta edição do JEiE, assim como os números anteriores, podem ser baixados gratuitamente no site da INEE.
Esta edição está disponível em inglês; os títulos e resumos dos artigos também estão disponíveis a seguir e no site da INEE em português, français, español, e العربيه.
Para mais informações sobre o JEiE, acesse inee.org/pt/journal.
Journal on Education in Emergencies (Revista sobre Educação em Situações de Emergência)
Volume 9, número 1
Quadro de conteúdos e resumos
EDITORIAL
Nathan Thompson, Samantha Colón e Dana Burde
Neste prefácio do Volume 9, Número 1, do JEiE, Nathan Thompson, Samantha Colón e Dana Burde destacam as contribuições das/os autoras/es apresentadas/os nesta edição para a pesquisa e a prática da EeE. Na seção de artigos de pesquisa, autoras/es que contribuíram aplicam metodologias rigorosas a questões práticas no campo da EeE sobre educação de recuperação e intervenções de aprendizagem socioemocional; sobre fatores que contribuem para a evasão escolar e para que estudantes retomem seus estudos; e sobre a agência e o protagonismo de professoras/es na orientação humanitária pós-desastre. Em nossa seção de notas de campo, apresentamos novos insights sobre a operacionalização da pesquisa participativa com jovens refugiadas/os, bem como quatro novas reflexões sobre respostas programáticas e políticas à COVID-19, que compõem a “Subseção Especial sobre Educação em Pandemias” desta edição. Por fim, as quatro resenhas de livros oferecidas nesta edição discutem a construção da paz sob diversas perspectivas, incluindo cidadania, pertencimento, participação em movimentos sociais e representação em materiais educacionais, especialmente livros didáticos.
ARTIGOS DE PESQUISA SOBRE EeE
Impacto dos clubes de recuperação em contexto de conflitos em Myanmar: um modelo de aprendizagem de remediação liderado pela comunidade
Silvia Mila Arlini, Nora Charif Chefchaouni, Jessica Chia, Mya Gordon e Nishtha Shrestha
Myanmar enfrenta uma crise prolongada de aprendizagem em áreas do país onde a pandemia de COVID-19 foi agravada por um golpe, em fevereiro de 2021, que prolongou o fechamento das escolas. A Save the Children criou os Catch-up Clubs (CuCs), uma intervenção que apoia a aprendizagem de recuperação das crianças e aborda as barreiras para o retorno bem-sucedido à escola após a pandemia de COVID-19. Os CuCs são um modelo inovador que oferece ensino voltado à alfabetização com base em jogos e sob a liderança da comunidade para crianças agrupadas por habilidade, e não por idade. Os CuCs avaliam, ainda, a alfabetização básica e a aprendizagem socioemocional (ASE) das crianças e, ao mesmo tempo, abordam questões de proteção infantil e barreiras econômicas à educação. O modelo foi testado com mais de 3.000 crianças da educação primária e secundária, que vivem em 36 comunidades nos estados de Rakhine e Kayin, afetados por conflitos. Realizamos uma avaliação de impacto experimental quasi-natural para investigar a relação de causa e efeito entre os CuCs e os resultados de alfabetização e as competências de autoavaliação das crianças. O estudo foi adaptado contextualmente para considerar as crianças afetadas por conflitos, género, estatuto socioeconómico e etnia. Os resultados mostram que as crianças que participaram dos CuCs apresentaram níveis significativamente mais altos de alfabetização e competência de autoavaliação do que as crianças que não participaram. As crianças participantes também demonstraram maior autoconfiança e desejavam permanecer na escola ou continuar seus estudos em níveis mais elevados.
Deixados mais para trás com o fechamento das escolas devido à COVID-19: dados de inquéritos sobre refugiadas/os Rohingya e as comunidades de acolhimento em Bangladeche
Gudrun Østby, Haakon Gjerløw, Sabrina Karim e Emily Dunlop
O fechamento de escolas decorrente da pandemia de COVID-19 levou à maior interrupção da educação da história, e afetou quase 1,6 bilhão de estudantes em todo o mundo. Refugiadas/os rohingyas em Bangladesh já enfrentavam uma crise educacional antes mesmo da pandemia, pois o governo de Bangladeshe proibiu o acesso de refugiadas/os Rohingya não registradas/os às escolas públicas do país. No lugar dessas escolas, o Fundo das Nações Unidas para a Infância e organizações não governamentais internacionais oferecem educação não formal por meio de centros de aprendizado informais nos acampamentos Rohingya. Em Bangladeche, a pandemia em Bangladesh levou a alguns dos fechamentos de escolas mais longos do mundo, o que agravou ainda mais a crise educacional pré-existente. A partir de dados originais de pesquisas telefônicas e presenciais, exploramos o impacto que o fechamento de escolas e centros de ensino durante a COVID-19 teve sobre crianças refugiadas e crianças da comunidade de acolhimento em Cox's Bazar, Bangladeche. Embora não tenhamos encontrado evidências claras de que a pandemia tenha afetado a educação de refugiadas e refugiados em geral, identificamos um efeito especialmente prejudicial que o fechamento dos serviços educacionais teve sobre a frequência de meninas adolescentes entre refugiadas/os Rohingya após a reabertura dos centros de ensino. Os efeitos heterogêneos são importantes porque destacam como a pandemia afetou de forma diferenciada diferentes grupos de refugiadas/os.
Abordando a adolescência: advocacy para a aprendizagem socioemocional sensível à idade e ao género durante emergências
Rena Deitz e Heddy Lahmann
As experiências de género de adolescentes durante os conflitos são marcadas pelo contexto sociocultural mais vasto. Embora existam intervenções para abordar a aprendizagem socioemocional (ASE) de jovens em situações de emergência, pouco se sabe sobre os efeitos destas intervenções em termos de género. Analisámos sistematicamente os estudos sobre a aprendizagem socioemocional em contextos humanitários para determinar as tendências de género nos efeitos e oportunidades. Ainda que muitos estudos existentes não consigam frequentemente desagregar os resultados por género, quando isso é observado, percebe-se que as adolescentes são consistentemente mais beneficiadas em termos de resultados sociais do que os seus pares masculinos, enquanto os homens, especialmente os adolescentes mais velhos, têm frequentemente melhores resultados de bem-estar do que as adolescentes. Os estudos que desagregam os resultados por idade e género identificam ainda mais complicações nestas tendências e apontam para o desafio de apoiar os resultados da ASE à medida que adolescentes se aproximam da idade adulta. Quando os programas são incompatíveis com as realidades das e dos adolescentes ou ignoram as questões estruturais e as normas de género, não resultam em resultados positivos. Os programas que são sensíveis ao género são os mais promissores.
Por que jovens refugiadas/os dos campos de Dadaab, no Quénia, desejam obter bolsas de estudo para o ensino superior com base no reassentamento, quando as chances de obtê-las são mínimas? A literatura existente lança luz sobre as fortes aspirações educacionais de jovens refugiadas/os. Entretanto, não sabemos ao certo por que elas/es persistem em perseguir metas educacionais elevadas quando as chances de alcançá-las não são optimistas, especialmente por meio de programas educacionais emergenciais. Este estudo contribui para nossa compreensão desse quebra-cabeça, tanto teórica quanto empiricamente. No estudo, baseio-me em pesquisa etnográfica, incluindo entrevistas semiestruturadas e exercícios de mapeamento de aspirações futuras com estudantes do Form One, bem como entrevistas com suas/seus professoras/es. Em seguida, apresento várias explicações interconectadas que abordam a questão da pesquisa. Primeiramente, as e os estudantes acreditam que o sucesso na educação é uma maneira de sair dos campos. Em segundo lugar, imaginam que conseguir uma bolsa de estudos no exterior resolverá suas difíceis condições econômicas e restrições acadêmicas. Por fim, acreditam que, ao se esforçarem para ter sucesso e serem motivados pelo sonho de estudar no exterior, suas chances de obter outra educação superior aumentarão. Neste estudo, defendo que a lógica cultural da esperança de alcançar um futuro melhor por meio da educação sustenta a motivação de jovens para buscar bolsas de estudo no exterior, o que supera as baixas chances de obtê-las.
Bangkit Semangat - Elevar os espíritos: vulnerabilidade, resiliência e voz de professoras e professores na Indonésia pós-desastre
Christopher Henderson
O recente documento de discussão sobre professoras e professores apresentado na Cúpula das Nações Unidas sobre Educação Transformadora (United Nations Transforming Education Summit) enfatiza a inclusão dessas/es profissionais no diálogo social em nível global e local. Entretanto, ainda não existem arranjos estruturais necessários para que as vozes de professoras/es sejam ouvidas ou para que suas perspectivas sejam levadas em consideração, especialmente em ambientes humanitários. Apenas recentemente agentes humanitários começaram a entender as maneiras pelas quais professoras/es respondem e trabalham durante emergências complexas. Agentes humanitários também começam a perceber como as perspectivas de professoras/es raramente informam os documentos de orientação técnica que determinam as condições em que trabalham (Adelman 2019; Falk, Shephard e Mendenhall 2022; Pherali, Abu Moghli e Chase 2020). Com base em um estudo etnográfico com professoras/es que vivenciaram o terremoto de Yogyakarta, em 2006, em Bantul, Indonésia, este artigo contribui para um corpo nascente de literatura sobre o trabalho de professoras/es, sua vulnerabilidade e resiliência e a importância de suas vozes durante emergências. Como afirma Marchezini (2015, 370), “é necessário olhar para as e os sobreviventes não apenas como pessoas afetadas, mas como sujeitos com suas próprias culturas e estratégias de enfrentamento”. Com insights das narrativas das/os próprias/os professoras/es e o conceito recorrente de bangkit semangat (elevar os espíritos), afirmo que a ausência das vozes de professoras/es nas políticas e orientações globais significa que temos uma compreensão inadequada da agência dessas/es profissionais e não reconhecemos seu potencial para realizar, reimaginar e reformular recomendações globais em nível local.
NOTAS DE CAMPO EM EeE
Voices of Refugee Youth: reflexões sobre um estudo participativo e centrado nas/os jovens
Katrina Barnes, Rebecca Daltry, Amy Ashlee, Aime Parfait Emerusenge, Khalid Khan, Asma Rabi, Aimée Mukankusi, Julia Pacitto, David Hollow e Bethany Sikes
O envolvimento de jovens refugiadas/os no processo de pesquisa tem um potencial significativo para abordar lacunas atuais na pesquisa sobre pessoas refugiadas de forma rigorosa, equitativa e capacitadora (Clark 2004; Haile, Meloni e Rezaie 2020). Esta nota de campo é um relatório sobre o projeto Voices of Refugee Youth (Vozes de jovens refugiadas/os), uma iniciativa de pesquisa no Paquistão e em Ruanda que visa construir a base de evidências para a educação pós-primária de refugiadas/os, ao mesmo tempo em que aumenta o acesso e a representação de jovens refugiadas/os nesse campo de pesquisa. O objetivo desta nota de campo é refletir criticamente sobre a abordagem participativa adotada pela iniciativa, por meio da qual jovens refugiadas/os trabalham como pesquisadores principais que aconselham, coletam dados e contribuem para os resultados. Na nota, destacamos os benefícios dessa abordagem, mas também a problematizamos para oferecer lições valiosas sobre o envolvimento significativo de jovens refugiadas/os no processo de pesquisa. Os autores concluem que a participação deve ser abordada com flexibilidade para facilitar diferentes níveis de participação, com base nas habilidades ou no nível de conhecimento das/os jovens refugiadas/os em questão. É fundamental que a participação seja acompanhada de um treinamento rigoroso que atenda aos contextos e níveis de experiência das e dos participantes e aborde questões éticas, como o preconceito baseado na posição.
Subsecção especial sobre educação durante a pandemia
Resposta dos sistemas educacionais à COVID-19: reflexões sobre as contribuições da pesquisa para a agenda de educação e resiliência da USAID
Jennifer Flemming, Ritesh Shah, Nina Weisenhorn, Julie Chinnery e Gwendolyn Heaner
No decorrer da pandemia de COVID-19, os sistemas educacionais enfrentaram o complexo desafio de proteger o bem-estar de estudantes e educadoras/es, além de garantir o envolvimento contínuo de estudantes com a aprendizagem. Isso levou a um número cada vez maior de apelos para fortalecer a resiliência do setor educacional a futuros choques e fatores de estresse, especialmente para as pessoas mais marginalizadas, a fim de manter o ímpeto para alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4. A resiliência foi e continua sendo um ponto focal importante para a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), tanto em toda a agência quanto em seu portfólio educacional. Neste documento, refletimos sobre a pesquisa de estudo de caso em cinco contextos - Colômbia, Geórgia, Líbano, Nigéria e Zâmbia - durante a pandemia de COVID-19 e a aplicamos à estrutura de resiliência da USAID para a educação. Identificamos práticas e estruturas usadas em cada contexto que foram operacionalizadas ou que poderiam ser aproveitadas ainda mais para absorver, adaptar e, por fim, transformar esses sistemas educacionais ao enfrentar uma pandemia e outros tipos de estressores e choques.
O impacto da COVID-19 na aprendizagem conectada: revelando o potencial e os limites da educação a distância no campo de refugiados de Dadaab
HaEun Kim, Mirco Stella e Kassahun Hiticha
Na última década, a Universidade de York, por meio do Projeto de Educação Superior Sem Fronteiras para Refugiados (Borderless Higher Education for Refugees Project), ofereceu educação superior in situ para refugiadas/os e professoras/es locais em Dadaab, no Quénia, um dos maiores e mais antigos campos de refugiados do mundo. Em 2020, a COVID-19 agravou a insegurança e a marginalização já presentes em Dadaab, o que teve efeitos profundos na infraestrutura educacional e testou a capacidade da universidade de continuar a oferecer educação equitativa e de qualidade. Nesta nota de campo, exploramos e capturamos reflexivamente as respostas inovadoras aos desafios complexos encontrados durante a pandemia de COVID-19 e desvendamos os limites e o potencial da educação a distância em Dadaab.
O projeto Transformational Empowerment for Adolescent Marginalised Girls in Malawi (TEAM) oferece educação básica complementar a adolescentes que foram deixadas para trás pelo sistema educacional convencional. Suas estudantes são principalmente meninas que enfrentam várias barreiras de interseção para aprender, incluindo deficiência, casamento infantil, maternidade, pobreza e normas de género que estimulam o preconceito. A educação a distância oferecida pelo governo do Malaui durante a pandemia de COVID-19 dependia de as e os estudantes acessarem proativamente as aulas criadas centralmente por meio de tecnologias como o rádio e a internet. Nesta nota de campo, argumento que essa abordagem não atende às necessidades das crianças mais marginalizadas do ponto de vista educacional, que precisam de apoio holístico para superar as barreiras decorrentes de suas características individuais, dos recursos disponíveis e do ambiente em que vivem. Comparo a abordagem convencional com a resposta da TEAM Girl Malawi, que usou uma estrutura de recursos que levou a três inovações importantes. Em primeiro lugar, um modo de ensino baseado em papel foi complementado pelo apoio presencial de professoras/es. Em segundo lugar, o conteúdo das aulas priorizou a resiliência e as habilidades socioemocionais como base para o aprendizado, e as/os professoras/es adaptaram um currículo básico às necessidades individuais de aprendizado das/os estudantes. Por fim, as funções das/os professoras/es foram ampliadas para incluir a proteção da criança e o envolvimento da comunidade. Concluo esta nota de campo identificando pontos de aprendizagem com base nas experiências de estudantes e nos resultados de aprendizagem, que demonstram como as futuras respostas de ensino a distância durante uma pandemia podem incluir todas e todos os estudantes.
Preparando as crianças para um mundo imprevisível em meio a uma crise: a abordagem de La Aldea
Ana María Restrepo-Sáenz e Emmanuel Neisa Chateauneuf
Ninguém estava preparado quando a COVID-19 chegou. Enquanto os sistemas educacionais de todo o mundo se voltavam para o ensino a distância, países como a Colômbia enfrentavam um desafio significativo: apenas 75% das/os professoras/es colombianas/os haviam recebido treinamento em ensino on-line, 64% das/os diretoras/es de escolas consideravam a tecnologia disponível para as escolas insuficiente e apenas 67% das/os estudantes de 15 anos de idade tinham acesso à internet (OECD 2019). E o que dizer das famílias que vivem em contextos de risco e enfrentam pressões adicionais econômicas e de saúde? Chegou a hora de ampliar La Aldea - uma estratégia flexível e centrada nas e nos estudantes, cujo conteúdo e métodos são projetados para atender às necessidades da criança no final da proverbial “última milha”. La Aldea é uma estratégia criada pela ClickArte, uma organização colombiana especializada em projetar e implementar projetos educacionais. Usando seus livros impressos, programas de rádio, conteúdo digital, músicas e jogos, La Aldea foi disseminada em todo o país por meio da estratégia de educação em emergências do UNICEF Colômbia. Também ofereceu sessões de treinamento on-line para 4.220 professoras/es. No final do projeto, atingiu 87.667 famílias e crianças. Esse plano imediato, abrangente, multimídia e de múltiplas partes interessadas foi adaptado para atingir todas as crianças nos ambientes de educação formal e não formal da Colômbia em comunidades migrantes e afetadas por conflitos. A estratégia educacional La Aldea é composta de histórias cuidadosamente elaboradas cujas personagens principais são animais encontrados na Colômbia (como araras, antas, corujas, tamanduás, entre outros). As histórias e atividades que compõem La Aldea são metáforas da sociedade: crianças, famílias e professoras/es podem se identificar com as situações que estão sendo retratadas, dando às escolas material para integrar esses temas de forma lúdica nos currículos de ensino, ao mesmo tempo em que estimulam as habilidades cognitivas, de cidadania e socioemocionais das crianças e, é claro, a conscientização sobre a COVID-19.
RESENHAS DE LIVROS
Meaningless Citizenship: Iraqi Refugees and the Welfare State, de Sally Wesley Bonet
Samaya Mansour
Em sua resenha de Meaningless Citizenship: Iraqi Refugees and the Welfare State, de Sally Wesley Bonet, Samaya Mansour transmite o quadro sombrio que Bonet pinta sobre a vida de quatro famílias de refugiados iraquianos que tentam se reassentar nos Estados Unidos. Samaya Mansour ressalta a alegação de Bonet de que o fracasso do programa de reassentamento dos EUA em cumprir seus ideais liberais de aceitação e multiculturalismo decorre, em parte, das narrativas xenófobas de déficit, das desigualdades estruturais e das políticas neoliberais que esvaziaram a capacidade (e a vontade) do Estado de ajudar refugiadas/os a se estabelecerem nos Estados Unidos. Mansour sugere que acadêmicas/os e profissionais da EeE apreciarão os insights do livro sobre a interseção da educação de pessoas refugiadas, cidadania e pertencimento e políticas nacionais de reassentamento.
Becoming Rwandan: Education, Reconciliation, and the Making of a Post-Genocide Citizen, de S. Garnett Russell
Orelia Jonathan
A resenha de Orelia Jonathan da obra Becoming Rwandan: Education, Reconciliation, and the Making of a Post-Genocide Citizen, de S. Garnett Russell, destaca a extensa investigação de Russell sobre a tentativa do governo de Ruanda de consolidar uma identidade nacional unificada após o genocídio de 1994, em parte por meio da educação. Russell observa, entretanto, que as metas do governo às vezes tiveram consequências não intencionais. Por exemplo, as narrativas históricas unificadas reforçaram as divisões entre as comunidades étnicas de Ruanda e dificultaram a tarefa de professoras/es de facilitar o tipo de discussão aberta e o pensamento crítico sobre a história do país que poderia promover a reconciliação. Jonathan conclui lembrando aos leitores que a complexa relação entre educação e construção da paz exige que os acadêmicos e profissionais da EeE considerem uma abordagem multifacetada para negociar as prioridades políticas.
Em Teaching Peace and Conflict: The Multiple Roles of School Textbooks in Peacebuilding, Catherine Vanner, Spogmai Akseer e Thursica Kovinthan Levi apresentam a estrutura Intersecting Roles of Education in Conflict como uma ferramenta para entender a educação como vítima, cúmplice ou transformadora de conflitos. Na resenha de Myuri Komaragiri sobre o volume, ela enfatiza o poder analítico da estrutura, afirmando que ela sugere que a educação, conforme ilustrado nos livros didáticos, pode ocupar vários papéis simultaneamente, pode oscilar entre papéis e que os vários papéis nem sempre são mutuamente exclusivos ou estão em desacordo. Komaragiri aponta para o fato de que a função transformadora é frequentemente identificada como uma intenção, mas que nem sempre foi suficientemente concretizada para argumentar que priorizar e possibilitar essa função transformadora é crucial para que a educação desempenhe um papel na construção da paz.
Youth-Led Social Movements and Peacebuilding in Africa, editado por Ibrahim Bangura
Deanna Pittman
As autoras e os autores que contribuem com o volume editado por Ibrahim Bangura, Youth-Led Social Movements and Peacebuilding in Africa, destacam as lutas de jovens para realizar mudanças sociais, econômicas e políticas em todo o continente e a tendência das autoridades estatais de reprimir os movimentos juvenis, muitas vezes de forma violenta. Em sua resenha sobre o volume, Deanna Pittman amplia a análise de Bangura sobre a “gerontocracia” dos Estados africanos para observar que estudiosas feministas há muito tempo observam as ligações entre a exclusão baseada na idade e no gênero nos processos políticos e o patriarcado. Pittman reedita o chamado à ação de Bangura para o campo da EeE: dar às e aos jovens ativistas uma plataforma e incluí-las/os como partes interessadas e participantes essenciais na tomada de decisões sobre EeE. Ela conclui observando que a conscientização e o aprendizado acontecem nos próprios movimentos sociais e por meio deles.