Apresentação do Volume 4 da Revista sobre Educação em Situações de Emergência

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Tema(s):
Investigação e Evidências
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A INEE tem o prazer de anunciar a publicação da Revista sobre Educação em Situações de Emergência, Volume 4, Número 1.​

A quarta edição da Revista sobre Educação em Situações de Emergência inclui cinco artigos de investigação, uma nota de campo e quatro recensões, e contribui para duas áreas importantes de investigação para a bolsa de educação em situações de emergência: a educação para refugiados (este volume é um precursor para a Edição Especial sobre Refugiados e Educação) e a gestão e administração da educação em sociedades pós-conflito. Os colaboradores e colaboradoras desta edição exploram as dificuldades dos estudantes refugiados em permanecerem resilientes no sistema educativo de um novo país de acolhimento, a educação para a cidadania, a partilha de poderes em resoluções formais de conflito, e colocam-se a si mesmos dentro das realidades quotidianas dos intervenientes no setor da educação, do Líbano à Irlanda do Norte, Macedónia, Iraque e Quénia.

Esta edição inclui uma subsecção especial sobre “Gestão Educativa em Sociedades Pós-conflito: Desafios e Oportunidades”, que apresenta três artigos que analisam o papel que a educação desempenha na estruturação de sociedades divididas, durante e após conflitos intraestatais. Com esta subsecção, a Edição 1 do Volume 4 oferece uma nova perspetiva sobre as políticas envolvidas na criação das estruturas e programas dos sistemas educativos, em contextos devastados por tensões étnicas. Em que sentido é que a educação é uma plataforma para o exercício do poder? De que forma é que a educação pode ser um meio de reconciliação? Como é que o conflito e a divisão são propagados pelas políticas e práticas educativas? Como é que os atores envolvidos navegam pelos desafios precários e sensíveis na manutenção da paz, ao mesmo tempo que reformam os sistemas educativos? Estas questões proeminentes e outras são exploradas nesta edição da Revista sobre Educação em Situações de Emergência.

A edição completa da Revista sobre Educação em Situações de Emergência, Volume 4, Número 1(PDF), pode ser descarregada gratuitamente, juntamente com as sínteses e os artigos completos, bem como as entrevistas em podcast com os autores, que podem ser acedidas no website da INEE.

 

Acerca da Revista sobre Educação em Situações de Emergência

A Revista sobre Educação em Situações de Emergência foi criado como resposta à crescente necessidade de uma investigação rigorosa para a educação em situações de emergência (EeE), por forma a consolidar a base científica, apoiar as políticas e práticas da EeE, e melhorar a aprendizagem intra e entre organizações, institutos políticos e instituições académicas. A Revista promove a criação e a partilha de conhecimentos da EeE, contribuindo, assim, para uma maior profissionalização do domínio da EeE.

A Revista visa especificamente:

  • Estimular a investigação e o debate, a fim de desenvolver dados e um conhecimento coletivo sobre a EeE;
  • Promover a aprendizagem entre organizações de prestação de serviços, e entre instituições políticas e académicas orientadas com base em dados concretos;
  • Definir as lacunas e as principais tendências de conhecimento, no intuito de informar investigações futuras;
  • Publicar estudos académicos e credenciados rigorosos que irão definir os critérios de prova na área.

Para atingir estes objetivos, a Revista procura artigos de académicos e profissionais que trabalhem multidisciplinarmente e entre setores, com vista a abranger uma série de questões relacionadas com a educação em regiões e países afetados por crises e conflitos. A Revista trabalha em estreita colaboração com a INEE, uma rede atualmente com mais de 14000 académicos e profissionais em todo o mundo, de forma a receber novos artigos de pesquisa e propostas de notas de campo, e para divulgar trabalhos publicados de elevada qualidade. Esta vasta parceria global entre ativistas, académicos, decisores políticos e profissionais em educação permite à Revista prestar um único e muito importante contributo.

Convidamo-lo(a) a juntar-se a nós neste esforço conjunto, e encorajamo-lo(a) a submeter os seus trabalhos relacionados com a EeE para a Revista, que acreditamos que irão aprofundar e alargar a eficácia da área.

Para informação detalhada acerca da Revista sobre Educação em Situações de Emergência, e para aceder a instruções sobre como submeter artigos, por favor visite www.inee.org/pt/journal

RESUMO

MAPEAMENTO DA RELAÇÃO ENTRE A REFORMA EDUCATIVA E A PARTILHA DE PODER EM E NO PERÍODO PÓS ACORDOS DE PAZ INTERNOS: UM ESTUDO MULTIMÉTODO
Giuditta Fontana

 Até que ponto uma partilha de poder consociativa afeta a conceção e a implementação de reformas educativas? O presente artigo mapeia este campo com recurso à informação recolhida através de entrevistas detalhadas realizadas no Líbano, na Irlanda do Norte e na Antiga República Jugoslava da Macedónia, em 2012 e 2013. As perceções destas entrevistas são corroboradas por evidências do primeiro conjunto de dados em grande escala relativos a provisões educativas em acordos de paz internos de Estados [nomeadamente, o conjunto de dados dos Acordos Políticos em Conflitos Internos (Political Agreements in Internal Conflict, PAIC)]. Existem fortes evidências de que os valores e as práticas da partilha de poder afetam a implementação das reformas educativas, na medida em que: restringem iniciativas sincréticas (integracionistas ou assimilacionistas) e permitem reformas pluralistas. A análise ao conjunto de dados oriundos do PAIC sugere também uma relação entre a partilha de poder e a inclusão das reformas educativas nos acordos de paz, sendo que: os pactos que incluem a partilha de poder são mais suscetíveis a incluírem também reformas educativas pluralistas. Além das suas consequências para a teoria e a prática das reformas educativas pós-conflito, estas conclusões contribuem para pesquisas adicionais sobre acordos de paz e sobre os fatores conducentes a uma partilha de poder bem-sucedida.

 

CAMINHOS PARA A RESILIÊNCIA EM AMBIENTES DE RISCO: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A EDUCAÇÃO DE REFUGIADOS SÍRIOS NO LÍBANO
Oula Abu-Amsha e Jill Armstrong

A resiliência é, frequentemente, entendida como a capacidade de alcançar o bem-estar perante significativas adversidades. Trata-se tanto de um processo dinâmico, quanto de um resultado que pode ser conquistado por indivíduos e comunidades. Apesar de ser um tema cada vez mais popular em domínios políticos, tais como a educação, o desenvolvimento e os estudos sobre refugiados, a investigação sobre a promoção da resiliência no âmbito da educação de refugiados ainda é limitada. Este estudo qualitativo, que analisa as experiências de crianças refugiadas sírias que frequentam um centro de educação não formal no Líbano, procura entender o papel que a educação desempenha na construção de caminhos para a resiliência na vida das crianças. Metade dos alunos e alunas envolvidos neste estudo tinha escolhido abandonar as escolas formais libanesas que frequentavam. Este estudo argumenta que os alunos e aluna que escolheram abandonar a escola sentiram que as vantagens de frequentavam a mesma não compensavam os riscos que enfrentavam e, assim, procuraram diferentes caminhos para a resiliência. Muitos e muitas optaram por frequentar escolas não formais tal como aquela envolvida neste estudo, o que ajudou os alunos e alunas a encontrarem caminhos para a resiliência. As descobertas do estudo destas escolas poderiam ajudar a melhorar a educação dos refugiados sírios no Líbano, incluindo disponibilizar opções de educação seguras, acessíveis, produtivas e culturalmente relevantes para mais crianças e para as suas famílias, e ainda apoiar mais crianças e jovens refugiados na escolha da educação como um caminho para a resiliência.

 

DESENVOLVER A COESÃO SOCIAL ATRAVÉS DAS ESCOLAS NA IRLANDA DO NORTE E NA ANTIGA REPÚBLICA JUGOSLAVA DA MACEDÓNIA: UM ESTUDO SOBRE A TRANSFERÊNCIA DE POLÍTICAS
Rebecca Loader, Joanne Hughes, Violeta Petroska-Beshka e Ana Tomovska Misoska

Transferir uma política educativa de um país para outro, ou entre organismos supranacionais e administrações nacionais, é uma prática comum e os potenciais benefícios para a qualidade do ensino e os padrões educativos são evidentes. Apesar dessas vantagens, as abordagens dominantes sobre a transferência de políticas têm sido criticadas por, entre outros motivos, deixarem de lado a influência do contexto local sobre a política e priorizarem a função económica da educação em detrimento de outras. Neste artigo, consideramos um exemplo de transferência de políticas com outro intuito, nomeadamente: promover a coesão social através das escolas, especificamente em sociedades que experienciaram divisões e conflitos étnicos. Dando enfoque ao modelo de educação partilhada, que promove a colaboração escolar e o contacto entre os alunos e alunas através de fronteiras étnicas ou religiosas, exploramos um processo de transferência de políticas entre a Irlanda do Norte e a Antiga República Jugoslava da Macedónia. Com base na análise documental, entrevistas a profissionais de ambos os países e experiência pessoal direta, examinamos o propósito, a natureza e o impacto deste caso de transferência de políticas e identificamos as lições que podem ser partilhadas com as iniciativas educativas futuras.

 

A POLÍTICA DA EDUCAÇÃO NO IRAQUE: O IMPACTO DA DISPUTA TERRITORIAL E DA ETNOPOLÍTICA NO ENSINO EM KIRKUK
Kelsey Shanks

Os Territórios Disputados do Iraque, ou Fronteiras Internas Disputadas, consistem em 15 distritos que se estendem por quatro províncias do norte do país, entre as fronteiras sírias até às iranianas. A província iraquiana de Kirkuk, rica em petróleo, está no centro da disputa e reflete a diversidade étnica e religiosa do país. Árabes, Turcomanos, Curdos e Assírios reivindicam padrões antigos de povoamento na província, que reflete a composição demográfica variada do Iraque. A importância simbólica de Kirkuk como pátria, tanto para os Curdos como para os Turcomanos, entra diretamente em conflito com a sua importância estratégica para Bagdade. Enquanto os dois centros de governo, linguisticamente distintos, disputam o controlo, as tensões entre comunidades étnicas crescem e as questões de identidade interferem cada vez mais com a vida quotidiana. A investigação existente sobre Kirkuk concentra-se, fortemente, nos resultados de governação e em possíveis soluções administrativas, mas pouco tem sido escrito sobre o impacto das acentuadas políticas de identidade na vida quotidiana dos cidadãos e cidadãs. É nesse sentido que este artigo explora o impacto do conflito e da disputa sobre a educação na cidade de Kirkuk.

  

O PROJETO DE ENSINO SUPERIOR SEM FRONTEIRAS PARA REFUGIADOS: POSSIBILITAR A TRANSIÇÃO PARA O ENSINO UNIVERSITÁRIO DOS ESTUDANTES, REFUGIADOS E LOCAIS, EM DADAAB, QUÉNIA
Wenona Giles

Este artigo analisa alguns dos desafios experienciados por estudantes que vivem nos campos de refugiados de Dadaab e arredores, no nordeste do Quénia, que estavam a fazer a transição do ensino secundário para os programas universitários. Os alunos e alunas foram inscritas em cursos oferecidos por duas universidades do Quénia e duas do Canadá, que foram parceiras no projeto de Ensino Superior Sem Fronteiras para Refugiados. O contexto de Dadaab e a estrutura do projeto piloto também são explorados nesta análise.

  

"FIFI, A GATA JUSTICEIRA" E OUTRAS LIÇÕES CÍVICAS DE UMA ESCOLA PRÉ-PRIMÁRIA PÚBLICA LIBANESA 
Thea Renda Abu El-Haj, Garene Kaloustian, Sally Wesley Bonet e Samira Chatila

Por todo o mundo a educação está encarregada da reconstrução de sociedades divididas por conflitos violentos e devastadas pelas injustiças económicas. Neste artigo, focamo-nos na educação pré-primária no contexto vulnerável e conflituoso que tem marcado o Líbano. No entanto, ao invés de analisarmos a aprendizagem académica oferecida às crianças, consideramos antes a educação cívica afetiva que estas recebem através das práticas do dia-a-dia nas salas de aulas e escolas e, ainda, exploramos a sua ação dentro deste mundo social. Por educação cívica afetiva entendemos as formas pelas quais as crianças, incluindo as de três a cinco anos de idade, desenvolvem mensagens consistentes sobre o seu lugar público enquanto sujeitos-cidadão: sobre pertença e/ou exclusão; sobre como se espera que se relacionem com o poder e a autoridade; e sobre como agir no seu mundo social e sobre este. Assim, analisamos a forma como as crianças são educadas para as dimensões afetivas e vividas da cidadania e da pertença.