Implementar educação primária gratuita em contexto de crise: COVID-19 e reforma educacional em South Kivu, República Democrática do Congo
Em setembro de 2019, a República Democrática do Congo implementou uma nova política que aboliu as taxas para acesso à educação primária. Alguns meses depois, as escolas fecharam por 4,5 meses devido à pandemia de COVID-19. Como o bloqueio afetou a implementação da política de educação gratuita? Reduziu ou aumentou seus efeitos? Este artigo examina a experiência de escolas e professoras/es em dois distritos de South Kivu afetados por conflitos armados. Com base em uma pesquisa desenvolvida com 752 professoras/es e 637 pais, bem como 157 entrevistas qualitativas em 55 escolas, mostramos que, amparadas pela política de educação gratuita, as matrículas permaneceram estáveis e as relações entre professoras/es e pais não parecem deterioradas, apesar de um falta quase total de atividade docente durante o período de fechamento das escolas. No entanto, as dificuldades associadas à pandemia tornaram ainda mais insustentável a situação financeira de muitas/os professoras/es com contratos precários, anteriormente pagos através das taxas cobradas. O abandono maciço da profissão ameaça a estabilidade do sistema escolar. Assim, introduzir a educação primária gratuita não é uma panaceia em um contexto de crise. A sustentabilidade dessa reforma requer uma revisão ambiciosa e abrangente dos recursos humanos.